A audiência de instrução e julgamento foi realizada nesta segunda-feira (19) no Fórum do município e 10 testemunhas foram ouvidas.
Por Leonardo Bosisio, g1 Presidente Prudente
Uma audiência de instrução e julgamento foi realizada, na tarde desta segunda-feira (19), no Fórum da Comarca de Regente Feijó (SP) e interrogou Carlos de Souza, de 62 anos, que é acusado de homicídio triplamente qualificado contra a professora Eliana Pereira Neves, de 52 anos, no dia 28 de março deste ano.
Conforme o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) informou ao g1, o processo tramita em segredo de Justiça e, nesta segunda-feira, foram ouvidas 10 testemunhas. Além do réu ter sido interrogado.
Já o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) alegou que, encerrada a instrução processual, “a defesa pediu a complementação de um laudo pericial”. A Promotoria também informou ao g1 que irá manifestar, em alegações finais, pedindo pela pronúncia do acusado.
“Na visão da promotoria de Justiça de Regente Feijó, estão cabalmente demonstradas a materialidade delitiva e a autoria por parte do denunciado, bem como o uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, e, ainda, o emprego de fogo no assassinato”, finalizou o MPE-SP.
Os advogados que defendem o réu informaram ao g1 que Carlos de Souza está, atualmente, preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Caiuá (SP).
Defesa
O g1 entrou em contato com a defesa do acusado que, até a última atualização desta reportagem, informou que irá decidir se irá enviar um posicionamento, levando em consideração que o processo corre em segredo de Justiça.
Após 48 dias
Os restos mortais da professora Eliana Pereira Neves foram sepultados no dia 15 de maio de 2023, no Cemitério Municipal de Regente Feijó, 48 dias após o crime de feminicídio que a vitimou. Até então, os restos mortais estavam no Instituto Médico Legal (IML), em São Paulo (SP), para onde haviam sido encaminhados para a realização de um exame de DNA.
O velório ocorreu durante um período de duas horas, das 15h30 às 17h30, e foi aberto ao público, também em Regente Feijó.
Familiares e amigos da vítima prestaram homenagens à mulher, que foi velada e posteriormente enterrada em um caixão lacrado.
Relembre o caso
Conforme o delegado responsável pelo caso, Airton Roberto Guelfi, a Polícia Militar recebeu um chamado de um produtor rural, no início da noite, alegando que um veículo estava pegando fogo em meio à uma plantação de soja.
Os policiais foram até o local e pela placa do veículo conseguiram identificar que o proprietário era morador de Regente Feijó. A Polícia Civil foi acionada e, enquanto se deslocavam, a PM já havia feito contato com os familiares.
No local, os agentes encontraram alguns familiares e iniciaram uma conversa para tentar entender o que poderia ter acontecido.
“Durante a entrevista, o que chamou a atenção foi um possível envolvimento da proprietária do veículo com um homem de Regente Feijó. Nós identificamos, com os familiares, a residência desse cidadão e, imediatamente, a gente se deslocou até essa residência”, relatou Guelfi.
Na casa do suspeito, ele foi questionado sobre esse relacionamento com a vítima e permitiu a entrada dos policiais.
“No interior da casa, onde havia um pouco mais de luz, identificamos no braço dele algumas queimaduras que já remetiam a ideia, justamente, do incêndio do veículo, o que chamou atenção”, enfatizou o delegado.
Além disso, os policiais verificaram outras inconsistências em relação a versão dada pelo homem, como por exemplo, ele afirmou que ficou das 9h às 15h andando de bicicleta, porém, a Polícia Civil verificou que o objeto continha teias de aranha que davam indícios que não saía do lugar há um tempo.
O suspeito foi conduzido para a Delegacia e, durante o interrogatório, o delegado apresentou todas as informações coletadas com testemunhas e perícias e o questionou sobre os fatos.
“Ele acabou confessando indiretamente que estava com ela no local. A única coisa que ele alega é que ela mesmo que buscou a morte. Ele alega que ela se matou através do fogo. A versão é basicamente essa, que ele estava no local e viu o carro pegando fogo e que, diante do pedido da vítima que queria se matar, ele se virou e foi embora”, afirmou Guelfi.
Na residência, a Polícia Civil também localizou uma medida protetiva expedida por um juiz de São Paulo, que proíbe ele de manter contato com a ex-esposa.
Não há evidências de que ele tenha recebido ajuda para cometer o crime.
Testemunhas
Segundo o delegado, a colaboração da família e de testemunhas foi de fundamental importância para a investigação do caso, inclusive, apresentando contradições na versão inicial do envolvido.
“Essas testemunhas disseram que no dia do crime, durante a tarde, haviam avistado os dois no interior do veículo. Então, isso foi fundamental para que a gente pudesse entender e, consequentemente, concluir que a versão dele não era a verdadeira”, analisou Guelfi.
Os vizinhos do homem confirmaram para a Polícia Civil que ele se mudou para a cidade há cerca de 20 dias e, conforme testemunhas, não há informação de nenhum tipo de agressão anterior entre eles.
“A informação que temos é que ele é natural de Regente, mudou-se para São Paulo e retornou agora. Segundo testemunhas e ele, os dois se conheceram na infância e agora, quando acabou retornando nos últimos 20 dias, eles se aproximaram e começaram a conversar. Eles trocavam mensagens via telefone celular”, reforçou o delegado.
Já sobre a morte da professora ser causada pelo fogo, Guelfi afirmou que essas informações dependem do laudo necroscópico. E ela ter sido vítima de violência sexual não é uma hipótese descartada, porém, “não há elementos materiais para afirmar”.
“Os indícios indicam que, a questão da perícia ter encontrado junto ao corpo um cabo metálico utilizado para amarrar as mãos, indica que eventualmente ela pode ter morrido em decorrência do fogo. Mas isso vai depender do laudo necroscópico que ainda não foi emitido”, finalizou o delegado.
Foto: Leonardo Bosisio/g1